Soneto ao Vento

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Amar o vento, pois vento o fogo incita,
Qual beleza constante do movimento.
Do fogo, ser chama que se espalha e agita
Nessa pele ardente, d’amor e sentimento.

Amar ventos que tempestade precipita
Se negras nuvens dançam em atrevimento.
Na tempestade ser força que delimita
Nesses olhos todas águas d’algum lamento.

Amar, pois, ventos que preenchem a distância.
Qual abraço vagando em busca d’acolhimento,
Nos seios que amor se encontra em abundância.

Ser um vento morno, logo ali perto, a se soltar
Trazendo à tona as memórias d’uma infância.
Um vento terno, que distante, inda traz o relembrar.


Jônatas Luis Maria

Joana Nuclear

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Ai Joana! Quão doce é tua boca tão fria.
Rosa de mil silêncios, cravados nos dentes.
Macerada flor d’um morder aflito, sangrando na chuva.
Ai Joana! Ouve esse tanto de mágoa, a gritar pela porta.

Nos olhos este orvalho, e não há manhã para nós.
Tão lindos os teus cabelos negros de inverno tardio,
Inverno nuclear adiante a janela da morada cinzenta.
É dolorosa tua simplicidade fana, revelando esta morte.

A beleza mais insípida circula nos rebentos aflitos.
Quais aflições regem esta escrita mal grafada?
Escuta o furacão das horas arrancando nossas flores,
O quintal desamparado definha ao granizo dos dias.

E esta canção espalhada pelos cantos da casa,
Canção d’um pássaro órfão fugidio do ninho.
Qual conforto resvala ainda nossa boca sem festas?
Ai Joana! A vida é tão triste!