Soneto da sexta feira santa

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Vamos celebrar a festa proletária,
Fanfarra da nossa parca colheita.
Gargalhar frente à tragédia hilária,
Proclamar santos de qualquer seita.

Comungar perante um deus do nada,
Onipresente. Falta, cansaço e açoite.
Em casa comuna, que não é morada,
Reviver cada noite como um deleite.

Sejamos um pacto em meio algazarras,
Ideal morto que já não há quem aceite.
Traídos, ensimesmados de suas amarras

Revolucionar, e ser em si um enfeite,
Oh meu ego universal de tiranas agarras
Livrai de mim e todos, tudo que se sujeite!


Jônatas Luis Maria

Navegar, navegar

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Marinheiro azul navega no mar celeste,
Cria ilusões, se entrega num vôo perene.
Entoa a canção que ao amor compusera,
Cala por vezes. Pausa de solidão agreste.

Mira horizontes vermelhos. Retorna o leme.
Embarcação que é corpo nu que lhe juraste.
Relembra segredos marinhos que conhecera
Em paixão remota, já perdida em terra firme.

Cai a tarde branca entre nuvens navegantes,
Remotas, no infinito céu e mar das ilusões.
Segue por aí a nau, deslizante sempre à leste.

Dançando, o vento leva em sonhos o veleiro,
Direção correta da paixão, conforme o mapa,
Guardado sigiloso, no coração do marinheiro.

Jônatas Luis Maria