Dos Restos

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Das profundezas da alma salta este choro,
Este viés ligeiro daquilo que é estranho,
Profundamente estranho ao pós-moderno.
Sejamos práticos, amar é pra macacos!
Amar é para fracos, é contragosto do normal.

Humanizaram enfim o humano. Eis o fim!
Restam-nos divórcios, asilos e quimioterapias.
Nem amar, nem envelhecer. Nem morrer!
Acabara-se o direito da liberdade animal,
E resta-nos assim: Esta jaula! Crua. Social.

Já viu, ao acaso, um primata perder a cria?
Um pássaro perder o parceiro de ninho?
Tristeza não é só coisa de anjos que poetizam.
Amor e perda vivem lá fora com os bichos.
Cantai poetas! Aquilo que já se extinguiu.

Cantai como sempre, o tardio. A falta, o vazio.
Cantai’ igual a mim o futuro promíscuo e barato
Prometido em carta psicografada por deuses ruins.
Morreu no homem o que é febre saltando aos olhos,
E agora apenas cadáveres vagueiam entre corações.

Sobra pra nós, a vida imparcial dos corvos a festejar
Esta carniça servida em abundância a toda gente.
Pedaços de homens do passado, apodrecidos,
Numa oferenda universal aos novos bárbaros
Em eterno regozijo, sobre a mesa da indiferença.

Jônatas Luis Maria