para Juliano Dupont
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Que me importa? Tristeza inefável
se me abocanhas o calcanhar e cravas
teus dentes no instante de meu decolar?
Beijar o chão me é tão viável quanto as nuvens.
Não há Hugo no meu ego. Rimbaud talvez,
mas passara-me então o tempo de morrer.
Sem quintanares em meu quintal pequeno,
volto-me ao interior de meu interior, o que possuo.
Se numa força indefinível rompo tuas correntes,
atiro-me inteiro ao infinito, sem consequências.
Desfaço em pensamentos meu corpo intocável,
Desepareço nos ares, pairando sobre amores eternos,
Deleite indelével a esquecer-se do amanhã.
Mas quando cantas em meu coração sombrio,
Me encantas, e renasço em flor mais bela.
Tu sempre estarás lá, prendendo-me à realidade do chão.
Jônatas Luis Maria
Ode Brasileira
À Marco Feliciano
Nasceste abortada,
no parto já mataste tua mãe,
pequena matricida!
Renega a própria natureza, ninguém se
opõe.
Que é feito de crime tudo que te
compõe.
Tua história recente,
jorra miséria sem batalha.
(Esquece! É carnavalha!)
Desde cedo meretriz
aprende-se vender-se fácil,
quando a fome é quem nos diz:
o caminho reto e curto é o de lácio.
E foi assim que a todos deu-te tão
dócil:
“Minha pequena puta”
Disse o velho mundo à tua conduta.
Mas o velho todavia,
adora ver-te toda aberta.
Abriu-te inteira via,
e por teus portos deixara-te descoberta,
e a sífilis como herança certa.
Tua eterna mocidade
deu ao velho toda virgindade.
Hoje já és matrona,
trabalha feito máquina a vapor
a sustentar nova dona,
q'inda foste dada, depois de toda dor
a tua irmã bastarda, que com ardor,
cultiva tua entranha
mesmo à cultura sendo estranha.
Tiveste tantos filhos
vil pátria, renegas a cada um;
Certos de seus encilhos,
asnos que lhe carregam a lugar algum
reforçam tua genética, e de tão
comum,
apenas por seu odor
moralista, separam-se por cor.
Mas tens os teus diletos.
Eles representam os teus ideais.
Os vermes mais seletos
a devorar irmãos, em meio a tantos ais.
Suor ou labuta, nestes se vê jamais.
Parasitas em teus seios
Lhe chupam até ficarem sem anseios.
Mas ainda está por vir
o mal maior em tua triste sina:
Asnos de cristo a rir
levar-te-ão o espírito pelas
crinas,
e a relinchar e morder, violarão tuas
meninas.
Não nos serão clementes,
mas tu, mãe gentil, és conivente.
Jônatas Luis Maria
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