Perséfone

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É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida. É crua e dura a vida.
Alcoólicas. Hilda Hilst.

Caos nos teus olhos de sombra sensual e seminua,
Movimento libertino das tuas crinas de negrumes.
Efemeridade de ensandecer retinas nestas hipnoses,
Caleidoscópico desfilar, num sangrar calçadas urbanas.

Destila o ódio do mundo; lábios vermelhos comunistas,
A esconder a tua língua aristocrática beijando espelhos.
Estilhaço do virtual espaço, cáusticos olhares que lanças,
E tua lança fere corações que te perpassam. Alheios e sós.

Dança cosmopolita entre praças de imundícies, espectrais;
Esparrama infinita beleza colorindo becos em preto e branco.
Dissimula dilúvios precipitados na tarde laboriosa do planeta,
Canta pueril nos hospícios, a desdenhar quem por ti enlouquece.

Agitações dos paraísos ardidos em tua carne que acaricia incestos,
Oh triunfo de amar! Olhar sorridente para as próprias impressões.
É na doçura da odiosidade que se prova clássico veneno maturado,
É em seu efeito que se encontra a tristeza mais moderna que existe.

Vidraças irresponsáveis de paisagem do próprio interior entreaberto.
Decompõe a graça em salivante desejo, utopia a desnudar-te inteira.
E quando o faço é só fantasma, d’algum desenho imagético e vulgar,
Teu corpo retalhado de memórias, num cubismo doido que sonhei.

Jônatas Luis Maria