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Tateio as estranhezas do mundo,
sinto os naufrágios de deus.
As certezas que encontro no fundo
desse poço, rasgam meus dedos ateus.
Farejo o cheiro ocre, dos ratos,
dos zumbis cotidianos nas ruas imundas.
A cidade é um cemitério imenso
onde habitantes reviram lixo dos velórios.
Estremeço em convulsões quando lembro
Que os porcos jamais veem o céu.
Os subterfúgios deste enorme chiqueiro
Se fundem com as mágoas passadas da nação.
Vejo esse mundo e que vejo no mundo
é contraste luz e sombra no jogo de mostrar
e esconder as sarjetas, a invalidez e os ossos,
os restos, pedaços roídos da ralé moribunda.
Ouço o lamento dos anjos, esfarrapados,
esfiapados, estraçalhados de agonia suprema
e cidade de prata se decompõe pela peste,
uma tamanha infecção que pôde alcançar o céu.
O corpo é mausoléu, é cerne podre oco,
servido de vermes gordos e maldades divinas
cuja dieta é, senão alma semiviva, um qualquer
que se desgasta em rastejo pelo mundo, mas nunca morre.
Jônatas Luis Maria