Nesses dias de outono, ainda quentes,
as árvores parecem felizes.
Sacodem de alegria.
Até parece que sabem que em breve
chegará o inverno
e seu momento de profunda resignação.

Maio produz a melhor luminosidade do ano
e traz tranquilidade às árvores.
Maio ao meio dia.
Maio ao fim de tarde.
Pequeno verão de maio...

Nos proporciona esses diálogos com árvores,
esses monólogos? E essa luminosidade,
que talvez em nada seja diferente
da luminosidade do resto do ano.
Não importa, tudo é motivo para estar.

Debaixo desse céu azul e nuvens esparsas,
no pequeno verão de maio,
aprende-se com as árvores
o quão importante é estar.
Ser, já não é tão importante.


Jônatas Luis Maria
Tanta coisa se explica
naquele minuto de silêncio que houve entre nós.
Parece que tudo aquilo
que não fora dito antes, transpareceu
no segundo em que nossos olhos se cruzaram
pela última vez.


Tanta coisa que nos era oculta
se revelou naquele instante em que baixamos a cabeça
e desaparecemos para sempre na multidão das horas,
das noites e dos dias.

Nas chuvas infinitas de domingo
mergulhamos na solidão de nossos corações enevoados.

O coração humano é peregrino
e eventualmente se depara consigo mesmo
a mirar seu próprio abismo profundo.
Reflete, com olhos de gelo
e tranquilidade quase assustadora:
— Eu posso pular. Posso cair diz ele.

Quando assim imerso alguém nos vê,
pensa que nossos olhos se perderam no vazio
de algum pensamento profundo.
É fato, esse alheio nos compreende. Nós caímos.

Cada vez que nos suicidamos,
ensimesmados em nossos corações,
compreendemos um pouco a vida.
E nas vezes em que amamos, vivemos.

Solidão é compreender a si mesmo.
Mas apenas o outro é infinito.
Por isso solidão é transformar-se,
mas viver é entregar-se.
Adeus.

Jônatas Luis Maria