Os Miseráveis

A Victor Hugo

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Ao raiar da alma o homem é infinita pureza,
É esse anjo, imagem e semelhança de deus.
Ao crescer, o desprezo lhe vai tomando o coração
Vagarosamente, qual desespero lhe toma os olhos.

E quando? A que momento se passa esta cena fatal?
Ora! É, pois, quando o homem dá de cara com a miséria.
A miséria é para ele, a irmã perversa da morte, e esta,
Misericordiosa, há de levá-lo de uma vez, a miséria não.

Carrega-lhe aos pedaços, ano a ano, dia a dia, cruel.
Lhe pega de assalto pela consciência, este deus,
Que nasce com agente. Vai mutilando-a aos poucos
E quando parcos, nos apercebemos, somos a imundície.

Somos o coração podre da sociedade, que é caridosa.
Tão caridosa, quanto a própria miséria o é. Sutilmente
Levando-nos tudo aquilo que nos dera com a outra mão.
E resta-nos, a meia vida, senão um punhado de migalhas.

Pouco a pouco, poucos sobejos nos vão contentando,
E ao final, nada nos resta, e nos é suficiente. Preenche-nos.
E vazia, nossa consciência, depois de penares e horrores
Descansa em paz, no jazigo de nossos crimes tremendos.

Finalmente, carne, osso e ideais enfermos, em agonia,
Compõe o que um dia foi tão belo, inocente e sonhador.
Então, esta carcaça que outrora teve um nome, jaz fria;
Migalhas de sonho a tentar o sono. As sobras o deixam, o demônio não.

Jônatas Luis Maria