Simulacro



Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Do Desejo - Hilda Hilst
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Das vezes em que o quarto se torna calabouço
é para que eu sonhe sobre a laje fria
do leito dos amores que enterrei.

Quando a tempestade urra como demônios
escurecida estraçalha janelas,
preparo um café para melhor receber o fim do mundo.

Todo um arsenal a espera de oponentes,
abro a porta e só encontro amigos. A pólvora
favorável à implosão, fará inveja ao pôr do sol.

Cada fantasma que sai das gavetas e esquinas
troca minhas músicas, tranca meus sentidos,
revira meus miúdos equívocos.

Não trazem cerveja, não trazem cicuta.

Essa cova que se abre na borda dos dias
rasga a mão fadada revirar a terra íntima da idade
e já se foram três palmos, palmas pra mim – lavrador incansável.

Aos pássaros resiliência. Aos vermes – Tudo.
Que morada é essa? Que consome meus centavos
que é propícia a se plantar as flores e às vezes, chora comigo.

Que sonhos estranhos se sonha sobre cadáveres
e pelas estantes, entre livros, esse poço que cheira à saudade.
As taças de vinho, as panelas e o escorredor de louça

Já não querem conversar comigo.

Jônatas Luis Maria