Nêmesis

___________

Paixão é a flor que o diabo carrega no peito,
Flor-de-lótus que vai crescendo num pântano.
Murcha pela manhã. Cada pétala uma mácula,
Cada mácula um crime. Torpor de maldades.

Emaranhado das carnes e almas, sombra da lua.
Entrelace da vida corriqueira e do verossímil,
A lágrima das correntes, ferrugem consumindo.
Paixão é solstício de inverno, equinócio da tristeza.

Própria semente do humano, liga-se à inconsciências.
Parte a passagem do sol nos arquipélagos do coração,
Corta o dia, fazendo-o sangrar tardes de chuvas infinitas,
Queima bandeiras que no peito agitas. Anarquiza hábitos.

Paixão é força que delimita. Limiar das fleumas trêmulas
Das convulsões e espasmos. Dos cômodos vazios, abandono.
É graça cheia de bruxaria, espinho nascido em flor mais bela,
Paixão. Enraizar-se n’outro que não tu, perecer na febre alheia.

Jônatas Luis Maria

Messalina dos séculos

___________

Descobrir a mágica das noites infinitas;
Transformar em miasmas as revoluções.
Crânio apedrejado das violências do pensar,
Tecido morto, coberto de religiosos hábitos.

Jogar nos signos; e o jogo é a máxima que trai.
Transar com tudo que vive, gozar então a morte.
Arrebatadoramente romper a cortina do amanhã,
Prostituta a quem confessar todo crime, todo tédio.

Resta um beijo ainda, depois o pânico!
A puta amarga dos incestos não tarda renascer.
Ajoelha-te ao deus de piedades, divindade do vazio!
Lambuza-te entre as pernas de Valéria. Cria Cláudia.

O rastejo das víboras é o caminho histórico da estética.
Sua língua: progenitora de todas as filosofias narradas,
E esta fala inunda de orgasmos todas as mães do mundo
E todos os filhos são do Arcanjo guerreiro, fetichista.

O homem é filho das imundícies, e filho de Eva...
Tantas Evas beiram esquinas encardidas, por um beijo.
Tantos beijos partem o coração do poeta, bastardo
Das gerações inglórias, cravejado de noites tão malditas.



Jônatas Luis Maria