Incompletudes
Magnitudes
Existir
A mensageira
Mea Culpa (Ilusões)
Perséfone
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida. É crua e dura a vida.
Alcoólicas. Hilda Hilst.
Caos nos teus olhos de sombra sensual e seminua,
Movimento libertino das tuas crinas de negrumes.
Efemeridade de ensandecer retinas nestas hipnoses,
Caleidoscópico desfilar, num sangrar calçadas urbanas.
Destila o ódio do mundo; lábios vermelhos comunistas,
A esconder a tua língua aristocrática beijando espelhos.
Estilhaço do virtual espaço, cáusticos olhares que lanças,
E tua lança fere corações que te perpassam. Alheios e sós.
Dança cosmopolita entre praças de imundícies, espectrais;
Esparrama infinita beleza colorindo becos em preto e branco.
Dissimula dilúvios precipitados na tarde laboriosa do planeta,
Canta pueril nos hospícios, a desdenhar quem por ti enlouquece.
Agitações dos paraísos ardidos em tua carne que acaricia incestos,
Oh triunfo de amar! Olhar sorridente para as próprias impressões.
É na doçura da odiosidade que se prova clássico veneno maturado,
É em seu efeito que se encontra a tristeza mais moderna que existe.
Vidraças irresponsáveis de paisagem do próprio interior entreaberto.
Decompõe a graça em salivante desejo, utopia a desnudar-te inteira.
E quando o faço é só fantasma, d’algum desenho imagético e vulgar,
Teu corpo retalhado de memórias, num cubismo doido que sonhei.
Jônatas Luis Maria
Não Libertarás
Nêmesis
Paixão é a flor que o diabo carrega no peito,
Flor-de-lótus que vai crescendo num pântano.
Murcha pela manhã. Cada pétala uma mácula,
Cada mácula um crime. Torpor de maldades.
Emaranhado das carnes e almas, sombra da lua.
Entrelace da vida corriqueira e do verossímil,
A lágrima das correntes, ferrugem consumindo.
Paixão é solstício de inverno, equinócio da tristeza.
Própria semente do humano, liga-se à inconsciências.
Parte a passagem do sol nos arquipélagos do coração,
Corta o dia, fazendo-o sangrar tardes de chuvas infinitas,
Queima bandeiras que no peito agitas. Anarquiza hábitos.
Paixão é força que delimita. Limiar das fleumas trêmulas
Das convulsões e espasmos. Dos cômodos vazios, abandono.
É graça cheia de bruxaria, espinho nascido em flor mais bela,
Paixão. Enraizar-se n’outro que não tu, perecer na febre alheia.
Jônatas Luis Maria
Messalina dos séculos
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Descobrir a mágica das noites infinitas;
Transformar em miasmas as revoluções.
Crânio apedrejado das violências do pensar,
Tecido morto, coberto de religiosos hábitos.
Jogar nos signos; e o jogo é a máxima que trai.
Transar com tudo que vive, gozar então a morte.
Arrebatadoramente romper a cortina do amanhã,
Prostituta a quem confessar todo crime, todo tédio.
Resta um beijo ainda, depois o pânico!
A puta amarga dos incestos não tarda renascer.
Ajoelha-te ao deus de piedades, divindade do vazio!
Lambuza-te entre as pernas de Valéria. Cria Cláudia.
O rastejo das víboras é o caminho histórico da estética.
Sua língua: progenitora de todas as filosofias narradas,
E esta fala inunda de orgasmos todas as mães do mundo
E todos os filhos são do Arcanjo guerreiro, fetichista.
O homem é filho das imundícies, e filho de Eva...
Tantas Evas beiram esquinas encardidas, por um beijo.
Tantos beijos partem o coração do poeta, bastardo
Das gerações inglórias, cravejado de noites tão malditas.
Jônatas Luis Maria