Madrigal Manhã

___________

Esta caligrafia é risco fundo nos olhos borrados da noite,
Novela clichê no caminho da odisséia que resta.
Drama derramado na carne, e carne se derrama na chuva,
Diverte-se vermelha viva nas entrelinhas do amanhecer.

Condensada noite no vadio vagar da manhã
E este sombrio que lhe salta à cara, retalha egos
Dos que ficaram tatuados na costura da madrugada.
Marcados e lacerados pelas linhas dessas mãos pueris.

Liberta-me, tu que é mito! Urze nossa mácula.
Deixa que eu dilacere-me pelo céu do infinito,
Feito ave de rapina que se estraçalha no universo.
Dança a criança sensual e leve, no virtual amanhecer,
Avança adiante ao carnal que excita, e grita em seu gemer.

Arde em febre a criança, ao morderem-lhe o seio aflito
Abocanha a rua e a rua se consterna, carrega de perfumes
O cheiro dos bueiros. Amordaça essa boca pequenina
Com dias de Madame Bovary, transitando por toda a culpa
(Todo tédio).

Arranha a vastidão da fome, e desfila pelo mundo
Em sobressaltos de assassínios supersticiosos,
Desenhados nesta pele de poesia pós-moderna.
Retrata o drama do poeta com cinismo e libertinagem.

Guarda este papel como hóstia sagrada entre as pernas.
Menina de madrigais aconselha a menina dos olhos
A não chorar o leite que vaza nas calçadas. Ela sabe:
Quem chora torna a noite estrelada, rabisco n'alvorada.


Jônatas Luis Maria