Morfologia

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Vida minha é futuro do pretérito.
Ilusão mais que perfeita.
Empirismo puro e platônico
E os domingos são grandes pleonasmos.

Parte que me cabe, subjuntiva,
É figura de linguagem inexpressa.
Lual em que a lua morre toda noite
E com lua voam sibilantes os ideais.

Portos em que navego intransitivo
Retém em parte, minhas formas reflexas,
São corações abstratos, transeuntes,
Agentes da passiva sob pronomes pessoais.

Assim se formam estes dias condicionais
Num fascínio bobo de criança substantiva.
E estas horas todas, átonas e sem hiatos
Levam-me a tempos d'oração sem sujeito.


Jônatas Luis Maria

Macária

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Fingimento das Personas no crânio acorrentadas:
Catacumba do cadáver que enterrei na infância.
Logo adulto infanticida então. Marionete de mazelas,
Verme canibal devorando cada sonho morto.

Despedaçado se reencontra em cada canto,
E conversa. Uma prosa de mosaicos memorial.
Fundo no museu entreaberto resta um semi-vivo
Cantando uma elegia em honra às suas correntes.

Desvairada se contorce alma desmedida, anônima,
Entre ossos d’um alguém que o corpo desconhece.
Dançar a morte, e ser alegre no profundo desespero,
Este amante silencioso, que dorme com a gente.

Já ter vivido toda sua velhice aos vinte e sete
E reconhecer-se sonolento no velório dos avós.
Tranquilo, ser encerrado nas gavetas fúnebres
Em todos os dias em que viveu. O infeliz.

Jônatas Luis Maria

A Flor do Suicídio (Personas mortas)

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Esqueci tuas revoluções de apartamento,
Ouve-se ainda a canção dos enclausurados.
Perdeu-se o gosto que o corpo é virtual,
E carne cibernética memorial morre o tempo.

Estes dias são cinzentos, das cinzas mortuárias
Das nuvens impregnadas de doente constância.
Triste alter ego que se vê pelas ruas insaturadas
Aos milhares de olhares imparciais dos mortos.

Encerrar confins do mundo, que são pra mim,
Diferentes do que são pra ti confins do mundo.
Reviver enfiado nas horas, o dia sempre igual.
Domingo nostálgico de quem perdeu lembranças.

A verossimilhança que há entre as vidas do dia
Faz-se carrasco das reflexões momentâneas,
E vão-se depressa todos os dias e todas as vidas
Frente a inconstância de nossa alma sem nome.

Jônatas Luis Maria