Ecoar Reflexos

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A poesia me foi roubada na infância.
E foi-me roubada a infância, sem verso,
Do avesso e contrai doenças de olhares.
Se olhares, verá – verso carne reticência.

Náusea que minh’alma cria, a mordaça
De estar preso nos corpos que toquei,
Nas mágoas que calei e frio, não adormeci.
Há séculos meus olhos chovem escuridões.

Há belezas vermelhas nos dias que sangrei,
Conjunções acamadas no silêncio, rios de gemido.
Antros, desilusões com anjos mortos de mim.
Fui todo um poema, morri em métrico suicídio.

Foi-me absoluta preposição, nudez e lágrima.
Fui figura de linguagem em tuas torturas reais,
Escravo da tua norma inculta, nuvem branca,
Afável criança que se precipita no quedar-se.

Aconteci doçuras, morreu-me sonetos de abandono.
Revirei entranhas nos lençóis de infinita maciez,
Bordados de crueza pueril sobre a dicotomia dos corpos
A separar-se em luas, e serem na sombra todo eclipse.

Jônatas Luis Maria