Canção Despedaçada

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Estética minha, crua tal do pouco.
Dizeres de prazer, por prazer de silenciar-se.
História minha, tão minha, todo meu o crime.
Ditos de afogar-se, entre adjetivos.

Ecos do miado, do grunhido no céu da boca.
Cacos do rugido, pedaços de pecado na língua,
Artéria possuída de posse, de apóstrofe,
De apóstolos em ceia sem assunto.

Riscos do perdão no tecido da culpa.
Venenos borrifados entre os gestos,
Angustias, coloridas percorrendo sorriso
Ligeiro a escorrer-se de si, e fugir pelo canto.

Dói, a alma quando espera, em desespero,
Cai o coração, apodrecido sobre as horas lentas,
Desassossegos das linhas poéticas do gemido
Instantâneo a instalar-se entre pausas da prosódia.

Nem mesmo diabos comparam suas forças
Na medida em que pela cara escorre toda vida,
A saber, quem levaria, ao acaso, o desinteressante,
Esquecido nos embalos d’ um berço, e sem poder sonhar.

Jônatas Luis Maria

Cárcere dos porquês

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Arranca dos meus lábios um viés, uma fuga.
Dita-me teus modernismos, nos cafés, um refúgio.
Faz-me esquecer do caos terrível dos porquês
Aceitando a metafísica invisível dos clichês.

Quando meus olhos, mística profunda resvalar,
Sorri artisticamente, escondendo as tristezas do calar.
Se ainda assim, reverbera pela casa o silêncio revestido
De profundas mágoas passadas; canta, sem além motivos.

Ignora minha lógica tardia das alucinações,
Têm na mágica do dia, todas as recordações,
Das racionalidades vagas, ao vento que se esquece.

E que este esquecimento traga, ternura que aqueça
Esta frieza existencial das dores, então não vividas.
E traga ainda, conforto às almas, ligeiramente divididas.

Jônatas Luis Maria