Ode Brasileira




À Marco Feliciano



Nasceste abortada,
no parto já mataste tua mãe,
pequena matricida!
Renega a própria natureza, ninguém se opõe.
Que é feito de crime tudo que te compõe.
Tua história recente,
jorra miséria sem batalha.
(Esquece! É carnavalha!)

Desde cedo meretriz
aprende-se vender-se fácil,
quando a fome é quem nos diz:
o caminho reto e curto é o de lácio.
E foi assim que a todos deu-te tão dócil:
“Minha pequena puta”
Disse o velho mundo à tua conduta.

Mas o velho todavia,
adora ver-te toda aberta.
Abriu-te inteira via,
e por teus portos deixara-te descoberta,
e a sífilis como herança certa.
Tua eterna mocidade
deu ao velho toda virgindade.

Hoje já és matrona,
trabalha feito máquina a vapor
a sustentar nova dona,
q'inda foste dada, depois de toda dor
a tua irmã bastarda, que com ardor,
cultiva tua entranha
mesmo à cultura sendo estranha.

Tiveste tantos filhos
vil pátria, renegas a cada um;
Certos de seus encilhos,
asnos que lhe carregam a lugar algum
reforçam tua genética, e de tão comum,
apenas por seu odor
moralista, separam-se por cor.

Mas tens os teus diletos.
Eles representam os teus ideais.
Os vermes mais seletos
a devorar irmãos, em meio a tantos ais.
Suor ou labuta, nestes se vê jamais.
Parasitas em teus seios
Lhe chupam até ficarem sem anseios.

Mas ainda está por vir
o mal maior em tua triste sina:
Asnos de cristo a rir
levar-te-ão o espírito pelas crinas,
e a relinchar e morder, violarão tuas meninas.
Não nos serão clementes,
mas tu, mãe gentil, és conivente.


Jônatas Luis Maria