Canções de ninar

para Juliano Dupont
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Que me importa? Tristeza inefável
se me abocanhas o calcanhar e cravas
teus dentes no instante de meu decolar?
Beijar o chão me é tão viável quanto as nuvens.

Não há Hugo no meu ego. Rimbaud talvez,
mas passara-me então o tempo de morrer.
Sem quintanares em meu quintal pequeno,
volto-me ao interior de meu interior, o que possuo.

Se numa força indefinível rompo tuas correntes,
atiro-me inteiro ao infinito, sem consequências.
Desfaço em pensamentos meu corpo intocável,
Desepareço nos ares, pairando sobre amores eternos,

Deleite indelével a esquecer-se do amanhã.
Mas quando cantas em meu coração sombrio,
Me encantas, e renasço em flor mais bela.
Tu sempre estarás lá, prendendo-me à realidade do chão.

Jônatas Luis Maria