Anunciação (Lamentos de Sophia)

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Ser-me a nulidade em si mesma apropriada,
Qual literatura reverberando pelo tempo.
Carregando premissas e variáveis desconexas,
Restando em suma, um vazio em recorrência;
Tenho-me assim, aquele que deriva do caos.

A soma das idéias decorre em número irracional
De infinitas casas decimais nunca a completar-se.
Toda poesia foge a lógica sem carta de adeus,
Deixando alma presa ao peso atômico sem medidas
E o corpo em cacos faz-se objeto incompreensível.

No austero dia da iniciação particular da matéria
Brotara semente filha da inexatidão do resultado.
Desabrochou feito cria imaterial do cosmos, poética,
Germinando quântica tristeza subatômica condensada
Nos milhões de anos subsequentes a esta lágrima no rosto.

Esta roda reacionária tão ilusória quanto um sorrir
Metafisicamente se desfaz em espiral e vive-se,
Confortável sensação de que nada foi assim outrora.
É a reminiscência criacionista da indiferença glacial;
Igual estes olhos, numa primitiva lástima, sem igual.


Jônatas Luis Maria