A Flor que habita

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Se eu chorar,
Deixa-me popular, quase povo
A derramar todo filho que partiu.
Compõe dos meus olhos solidão,
Deixando a lágrima de refrão.

E se sorrir,
Fazei de mim todo mar
Onde barco algum há de se perder.
Deixa-me ondas de maré mansa,
Lentamente a inundar o silêncio.

Se eu viver,
Plantai uma flor entre minhas chuvas,
Colorindo esse nosso eterno inverno.
Fazei de mim teatro, ato de improvisos,
Deixando-me cenas de absurdo.

Se eu morrer,
Fazei uma festa onde deus não entra
Mas o amor não sai.
Fazei das lembranças um verso,
E queimai o que restar.


Jônatas Luis Maria

Falecer

"Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria.”


Álvares Azevedo

É preciso coragem para aceitar-se finitude
E muita dor para encarar tal brevidade.
Se fosse linguagem, nem reticências seria.
Se fosse linguagem, seria o ponto final.

E fosse tudo outra vez? Quão bom seria!
Mas no tempo do mundo não há futuro do pretérito.
Se fosse música, nem pausa seria.
Se fosse música, um acorde final.

Todas tuas construções são de vento,
Poças d’um punhado de dias, em mar sem correntezas.
Se fosse poesia, seria verso pra quem fica.
Se fosse poesia, apenas esquecimento.

É descabido ao homem tudo que é finito.
Pensa então, como é nunca ter estado.
Se é a vida, nada mais existe.
Se é a vida, é do verme qualquer lembrança.

Jônatas Luis Maria