Ciranda


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Essa mania de falar com pedras
de tropeçar nas pedras
de se recostar nas árvores
e delirar

O instinto amargo de virar tempestade
uivar o lamento louco dos trovões
estendendo longo corpo de escuridões
por infinitos descampados em tormenta

Transformar-se no fantasma da chuva
e onde me levam os meus fantasmas?

Essa mania de cantar com pássaros
resignar-se com pássaros
e piar pelo arvoredo
lamentando ser sequer terra gasta
pisada de rituais e segredos

Não. Aqui há senão desertos
caatinga violenta e solitária
espinhais e répteis ariscos

aqui não há cirandas
nem carpideiras de encomendar
os cadáveres e carcaças

Aqui a noite é calada
vazio de todos os vazios
loucura de todas as estrelas
distância de todas as estrelas

O coração é escuro desacerto
é absurdo de absurdos e vagueia
pela tremenda estiagem noturna e caminha
aonde me levam os meus fantasmas.

Jônatas Luis Maria