Desmesuras




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Não me agarro à bandeiras,
mas ao lixo, à clausura.
Não pertenço à comuna,
tampouco às causas medievais.

Sou o sangue das gargantas cortadas
manchando a roupa dos condenados.
Sal da terra no vestido de Maria
Tenho em mim ovulações do cosmos.

Nem atritos tenho nos pés, mas carne viva
Porque caminho há séculos ao teu encontro
e portanto, indizível, consumado, desumano
espezinho tudo que me parece tua sombra.

Não tenho carne, olhos, boca - sou vendaval
e simplesmente exijo que o mundo sopre
forte e incomensurável, como há de ser o mundo
quando se trata de acarinhar tormentas.

Não sou a morte, mas a vida que se esvai,
nem os dias ou as noites,  mas os intervalos.
Não sou amor, desamor ou amizade,
E sim sinceridade, doa em mim a quem doer.

Jônatas Luis Maria

Estatuaria


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Sei que não tenho direito
de lhe fazer tais exigências,
entretanto gostaria de pedir
que pare com toda ternura.


Não diga doçuras e gentilezas,
não olhe com carinho insuportável
ao ponto de fazer de nós um só,
ao ponto crucial que transborda
as bordas do amor.

Não quero ver tua letra, cursiva e sensual
perdida nos bilhetes e papéis,
nos cadernos e anotações, escondidos pela casa.
Dá saudades quando te encontro nas gavetas.

Jamais sorria. Feche a cara, cerre os lábios,
tenha a testa franzida e olhar de quem me testa.
Seja dura! Imparcial como convém,
ou pensarei que a beleza do mundo é toda tua.

Nunca rememore nossos planos, nossas fugas.
Esqueça as fotos e flores, as mãos atadas.
Arranha a pele, apaga as marcas de carinho,
as canções que ficaram, e os poemas virão.

Jônatas Luis Maria